Ah, se o tempo
me mostrasse cada lembrança do meu passado, certamente ele seria 90% de
toda minha felicidade. Não é algo que possa se comparar com algum filme ou até
mesmo livro de modinha que todo mundo sabe qual é a história. Ah... Histórias!
Cada um vive a sua, e obviamente eu vivi a minha para ele. Está certo
que na época não me importava, hoje não me importo, apenas quero viver um pouco
mais o meu próprio capítulo. É difícil, chega a ser dolorido até. O coração
fica apertado, mostrando que o órgão está tão danificado que merece ser
retirado do peito, como se outro fosse funcionar ali... Duvido muito! Ah, que
paz sem fim!
A parte da
lembrança me agrada muito, costumo ficar horas lembrando do sorriso dele
que fazia meu coração tremer, ou, para ser mais clara, do abraço que fazia meu
mundo desabar. Era como se cada tijolo de uma construção fosse demolida em 3
segundos, até que você se distância do calor e olha em volta, não há mais nada.
A lembrança tem uma cor mais fechada, mais triste, por mais que as cenas sejam
sorrisos. É como se a cor cinza trouxesse para os olhos da alma um sabor de
saudade.
Lembro-me
das tardes ensolaradas, um amarelo ouro que preenchia a cozinha com pão e
mortadela, e por mencionar, um suco de laranja maravilhoso. É claro que não se
tratava de uma simples refeição. Tudo se tratou de companhia. Que para mim, era
a melhor de todas. Mais uma vez o coração se aperta, não tenho solução para
tanta dor. Remédio funcionária se a presença de seu sorriso viesse na receita
do médico. Ah, que tardes quentes...
Hoje o tempo
está black, bem escuro mesmo. Conheci-o em uma manha triste, chuvosa, sem
sorrisos e um silêncio absoluto. Quanta concentração para não reparar, que
acabei esquecendo sua existência assim que virei às costas. Mas, isso não
bastou. Foi preciso muitos olhares de alma, muitos sorrisos, muitas máscaras
pretas para poder ver um sentimento puro e transparente, cristalino que me fez
lembrar tudo.
Eu gosto
do vermelho, muito mais do que deveria. Gosto do poder forte que essa cor
emana. Gosto do sabor amargo que proporciona. Sou apaixonada pelo azul, mas o
vermelho me tira do sério. E ele é vermelho puro. Sem tirar um tom de
personalidade. É instável e não sabe o que quer. É forte e luta bravamente, é
um menino corajoso. Sim, ele é um doce amargo. É agridoce! Uma mistura seletiva
de defeitos e qualidades, das melhores. É o meu oposto completamente, até mesmo
em cores consegue ser o meu contrário. Mas, para mim... Era o vermelho ideal!
Minha infância
foi marcada de azul, sempre olhava o céu antes de dormir, quando acordava ou
quando me sentia triste. Ainda faço isso, consecutivamente todos os dias. Ele
diz odiar azul, mas essa cor é a minha paz interior, é o que me mantém
conectada com a vida. Mas, se é para falar de lembranças, a primeira vez que me
senti feliz sem ver a cor azul no céu, foi na madrugada de uma noite qualquer. Ele foi me abraçar, dizer coisas banais sem sentido. Sim, ele foi um cavalheiro por me acordar e por ficar ao meu lado
olhando as nuvens no frio da madrugada. Queria ver o amanhecer, mostrar pra ele
as cores da vida, o laranja mesclando com o vermelho e um azul celeste
brilhante. Queria poder dizer que eram minhas cores favoritas, que eram uma
mistura de bons sentimentos.
Mas, como
toda noite tem fim, toda cor tem seu final. O meu final não chegou ainda, mas
acredito que seja uma imensidão de cores, imagino que o céu esteja repleto de
tons de vermelho e azul, enfim... Gosto de lembranças, não futuros. A vida é
incerta demais para sonhar. Queria muito poder ter tudo que gostaria, mas gosto
de não viver esperando. Esperei por tempo de mais o verde, o rosa e até mesmo o
roxo. Esperei por coisas e pessoas, mas nunca a vida me presenteou, não com o
que eu esperava. Hoje vivo sem saber o que será amanhã. Sou grossa às vezes, e
falo coisas horríveis para quem não merecia escutar. Acontece que a cor da
tristeza enfiou nas veias da minha alma e responde em tom seco, todo o
sentimento que não deveria existir. Posso ter entendido todas as cores da minha
vida errada, posso ter confundido, vai que eu seja daltônica... Será?
Se de uma
coisa que eu tenho certeza completamente, é que você foi meu vermelho mais
intenso, minha cor oposta que mais amei em querer poder odiar, amei sem dar
conta que deveria odiar. Minha cor azul, escondida no verso de alguma canção
qualquer, hoje chora. Chora por não poder ser tão intenso, chora por não saber
o que fazer ou o que não dizer. Chora por não ter sido nada, nem importante,
muito menos memorável. Chora por se lembrar de cada momento, por se lembrar do
quanto aquele vermelho sangue fazia o azul sorrir. Chora, simplesmente, por não
ser vermelho!
Com Carinho, algum azul
esquecido naquela canção !
Lady Di
Lady Di