Eu sinto saudades daquela época... Uma época que não volta mais, e, pra falar a verdade, nunca existiu. Mas é que eu gosto que fingir que passei por aquilo, gosto de preencher o vazio fantasiando as imagens de um passado não tão distante.
Faz parte da minha vida, quer queira ou não. Mesmo não sendo real, tudo aquilo me faz bem. Eu faço por puro prazer e conforto, eu gosto de me embriagar nessa sensação.
Eu consigo ouvir o som da vitrola, ou até mesmo aquele disco de vinil, que na minha fantasia, eu tanto amava. Eu ainda posso sentir o cheiro dos biscoitos da vovó saindo quentinhos do forno, e então a família toda se reunindo em volta da mesa... Aquele momento mágico quando eu vi pela primeira vez o rapaz louro dos olhos castanhos claros, sentado no banco da praça, ao lado de um canteiro de tulipas... Posso sentir com precisão o toque da seda do vestido de noiva que eu havia acabado de experimentar... O nosso casamento, as nossas lembranças, nossos filhos com os mesmos olhos castanho claros que os seus, as nossas viagens em família, as fotos em preto em branco...
Minha vida nunca foi como eu queria, então a nostalgia era, e ainda é, a minha válvula de escape. Não tenho o homem dos meus sonhos, ele não tem aqueles olhos castanho claros que eu sempre sonhei. Não tive filhos e muito menos tirei fotos em preto e branco com a família toda.
Eu tive a oportunidade de ter tudo isso e um pouco mais... Mas nada deu certo. Daria tudo para voltar no tempo e fazer toda aquela sensação nostálgica virar parte de um passado real.
Mas enquanto não posso fazer isso, continuarei olhando através da janela do meu quarto, fumando vagarosamente meu cigarro e voltando às minhas lembranças de uma parte da minha vida que eu gostaria de ter vivido.
Lara Leite
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